No Caderno B, com o tema Cinema e Escola, abrimos com uma análise de experiência própria dos autores Allex Medrado Araujo e Camilla Shinoda, que desenham uma continuidade entre a sua intimidade enquanto casal, suas subjetividades e subjetivações, e a intimidade na relação de sala de aula enquanto professores que trabalham o cinema com alunos. De seguida, Cibrán Tenreiro defende a sua perspetiva de que os usos populares do audiovisual devem ser entendidos enquanto cinema experimental, e demonstra-nos como este novo entendimento abre caminhos ricos de pesquisa e trabalho em sala de aula. A IES Audiovisual de Vigo faz-se depois representar num artigo coletivo de vários dos seus professores, que nos apresentam um caso prático da integração do documentário nos currículos dos seus alunos; e, encerrando este caderno, Milene Figueiredo e Sara Pereira defendem as dinâmicas cineclubistas como terreno de encontro entre práticas cinematográficas e trabalho pedagógico com crianças.
Utilizar o audiovisual como uma tecnologia mediadora de compreensão da realidade é uma prática comum entre realizadores que entendem a potência artística e emancipadora do cinema, enquanto um modo de subjetivação política. Levar esse princípio para a sala de aula auxilia a estabelecer um processo criativo, crítico e empático com a realidade. A valorização do cotidiano, em seus elementos macro e micropolíticos, é o principal objetivo dessa prática pedagógica e cinematográfica que visa a emancipação dos sujeitos. Mas o quanto será que o cotidiano do professor, o seu sujeito fora da escola em espaço de intimidade, não contribui para a sua prática docente? A democratização das relações e das emoções na vida cotidiana, a partir inclusive da transformação da intimidade pelas mudanças na sexualidade, nos papéis de gênero, no casamento, na família, no trabalho e demais usos dos corpos, reflete nas vivências e trocas de um casal de professores e realizadores de um curso audiovisual com enfoque em Produção de Áudio e Vídeo. Este texto reflete sobre a intimidade do casal, os processos de subjetivação dessas relações sociais entre a vida íntima e a vida partilhada com os alunos. O método do artigo traz as memórias e as conversas sobre a reflexão da construção conjunta dos planos de ensino e das experimentações didáticas nas disciplinas ministradas. Ao fim, a discussão revela os acertos e as dificuldades dessas práticas, construídas na intimidade, aplicadas com os alunos, e como o cotidiano dos professores que orientam essas práticas influencia nesse processo.
ver artigo em pdfUsing audiovisual as a mediating technology for understanding reality is a common practice among filmmakers who understand the artistic and emancipatory power of cinema, as a way of subjectivation. Bringing this principle to the classroom helps to establish a creative, critical and empathetic process with reality. The valuation of everyday life, in its macro and micropolitical elements, is the main objective of this pedagogical and cinematographic practice that aims at the emancipation of subjects. But how much does the teacher’s daily life, his subject outside the school in a space of intimacy, not contribute to his teaching practice? The democratization of relationships and emotions in everyday life, including the transformation of intimacy through changes in sexuality, gender roles, marriage, family, work and other uses of bodies, reflects on the experiences and exchanges of a couple of teachers and audiovisual directors of a course focused on audio and video production. This text reflects on the couple’s intimacy, the processes of subjectivation of these social relationships between the intimate life and the life shared with students. The method of the article brings memories and conversations about the reflection of the joint construction of teaching plans and didactic experiments in the subjects taught. In the end, the discussion reveals the successes and difficulties of these practices, built in intimacy, applied with the students, and how the daily lives of the teachers who guide these practices influence this process.
Este texto pretende descrever a experiência das aulas práticas da materia de Escritura audiovisual no Grao en Comunicación Audiovisual da Universidade de Santiago de Compostela no curso 2020-2021. Nesta disciplina, a classe fiz uma primeira aproximação à criação de obras audiovisuais a partir de modelos tirados de filmes não ficcionais e de vanguarda, como filmes-diário, correspondências fílmicas, ensaios ou obras de found footage. Com isso, evita-se a frustração que surge ao tentar emular os filmes de grande orçamento que os alunos apontam como referências e, ao mesmo tempo, é possível aproveitar a relação entre o cinema independente de cineastas como Jonas Mekas ou Sadie Benning e as práticas audiovisuais que a juventude realiza no seu dia a dia (geralmente através da utilização de smartphones e redes sociais). Neste ensaio comentarei as diferenças e semelhanças entre os modelos utilizados e as obras resultantes, que utilizam recursos como memórias pessoais e familiares ou o remix de materiais apropriados. Procurarei também mostrar as possibilidades que o uso de filmes não ficcionais abre para o ensino de cinema em nosso contexto, em particular a capacidade de fazer com que as e os estudantes conheçam cineastas que normalmente sofrem a exclusão do cinema industrial (por gênero, idade ou origem geográfica), a adaptação a orçamentos limitados e acesso limitado a equipamento, e a descoberta de novos códigos audiovisuais e preocupações geracionais para os professores.
ver artigo em pdfThe intention of this text is to describe the experience of the practical lessons in the 2020-2021 Escritura audiovisual course within the Degree in Comunicación Audiovisual of the Universidade de Santiago de Compostela. In this subject, the students made an initial approach to the creation of audiovisual works using models taken from non-fiction and avant-garde films such as film diaries, film correspondences, essay films or found footage works. By doing so, the frustration that emerges when trying to emulate the big budget films that students mention as references is eluded and, at the same time, it is possible to take advantage of the relation between the independent cinema of filmmakers like Jonas Mekas or Sadie Benning and the audiovisual practices that young people carry out in their everyday life (usually through the use of smartphones and social media). In this essay I will comment on the differences and similarities between the models used and the resulting works, which use resources like personal and family memories or the remix of appropriated materials. I will also try to show the possibilities that the use of non-fiction films open for the teaching of cinema in our context, particularlly the ability to get the students to know filmmakers usually excluded from industrial cinema (because of gender, age or origin), the adaptation to limited budgets and limited access to equipment, and the discovery of new audiovisual codes and generational concerns for teachers.
Esta comunicación presenta un proxecto de ensino transversal e interdisciplinar no que conflúen contidos abordados en diversos ciclos formativos da familia profesional de imaxe e son. Ao redor de 120 alumnos e alumnas con idades diferentes, con inquedanzas e intereses distintos traballan en equipo para sacar adiante un proxecto desde cero: a realización de 7 pezas documentais. Trátase dun proxecto colaborativo que se pon en marcha mediante metodoloxías activas como aprendizaxe baseado en proxectos (ABP), aprendizaxe cooperativo, Flipped Classroom e aprendizaxe baseado en competencias no que a Investigación-Indagación e a Acción-Reflexión son o pilar no que se asentan a creación destes documentais. Esta metodoloxía de traballo ven refrendada polo Premio Nacional de Boas Prácticas na categoría á mellora ao éxito educativo outorgado ao IES Audiovisual de Vigo polo Ministerio de Educación do Goberno Español.
ver artigo em pdfThe aim of this communication is to describe a transversal and interdisciplinary teaching project involving in several vocational courses of image and sound leading to a certificate EAL Level 4 qualification. Around 120 students of different ages and different interests work as a team to carry out a project from scratch: the realization of 7 documentary pieces.It is a collaborative project that is launched through active methodologies such as project-based learning (PBL), cooperative learning, Flipped Classroom and skills-based learning in which Research-Inquiry and Action-Reflection are the pillar on which creation is based of these documentary.. This methodology of work is endorsed by the National Prize of Good Practices in the category to the improvement to the educational success granted to the IES Audiovisual of Vigo by the Ministry of Education of the Spanish government.
Pensar os regimes de visualidade contemporâneos e o estabelecimento de culturais visuais (Dussel 2009; Hernández 2000; Lins 2014), sob o viés da relação entre crianças e cinema, nos mobiliza a refletir e defender o trabalho do cineclubismo na escola como possibilidade de manutenção de espaços e tempos voltados à crítica, reflexão e ampliação de repertórios imagéticos de crianças e jovens. Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de interlocução entre cinema e educação através da criação de um cineclube no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil – NEI-Cap/UFRN. Como metodologia, o projeto envolve dimensões de curadoria, apreciação e análise fílmica coletivas, além de produção cinematográfica através da realização de oficinas de apreciação e criação de cinema. A partir de referenciais que dialogam sobre a condição das crianças contemporâneas em uma sociedade midiatizada (Buckingham 2006; Dornelles 2005; Pereira 2021), perpassando por autores que nos permitem construir aportes teóricos sobre o trabalho com o cinema na educação (Bergala 2008; Fresquet 2017; Migliorin e Pipano 2019; Fantin 2014; Duarte 2009) e sobre os principais objetivos do cineclubismo (Macedo 2010), o projeto também atua na formação de professores e acadêmicos da UFRN. Assim, com essa comunicação, pretendemos estreitar os laços entre as áreas de Comunicação e Educação, possibilitando que o cineclubismo possa ser pensado como uma possível estratégia na garantia de práticas críticas e criativas com o cinema na escola, superando o viés que o reduz a mais uma ferramenta pedagógica com fins meramente didáticos.
ver artigo em pdfTo think the contemporaneity visuality regimes as well as the establishment of visual cultures (Dussel 2009; Hernández 2000; Lins 2014), under the bias of the relationship between the children and cinema, allows us to reflect and defend film club on the school. This action enables us to ensure moments and spaces related to criticism, reflection, and amplification of children’s imagery. Thus, this work aims to present an interlocution purpose between cinema and education by creating a film club in the application school situated on the University of Rio Grande do Norte (UFRN), Brazil. As a methodology, this project evolves dimensions of curation, appreciation, and collective filmic analysis, as well as of cinematography production through workshops dedicated to the appreciation and creation of movies. From the references which dialog about the contemporaneous children’s conditions in a mediatized society (Buckingham 2006; Dornelles 2005, Pereira 2021), passing through authors which allow us to make theoretical apports related with cinema on the education (Bergala 2008; Fresquet 2017; Migliorin e Pipano 2019; Fantin 2014; Duarte 2009) and the mains goals of film club (Macedo 2010). The project act also in the teacher’s training, as well as undergraduate students of UFRN. Therefore, with this work, we pretend to strengthen ties between the communication and education fields, making it possible that the film club can be think as a possible strategy to elaborate critically and creatives practices in the school.