Terminamos a CiNEMAS#02 com o Caderno C, dedicado a análise fílmica. Keyla Oliveira e Pollyanna Ribeiro pensam sobre a curta-metragem de animação Canvas (Frank E. Abney III, 2020) à luz da psicanálise e da teoria crítica da arte, enquanto Dijaci de Oliveira e Rita Márcia Furtado trazem o documentário Prova Escrita (Luiz Gustavo Ferraz, 2020) para problematizar tanto o filme como questões sociais e políticas pelas quais o Brasil contemporâneo atravessa. Finalmente, Stella Carneiro evoca Bacha Ettinger e o seu conceito de olhar matricial, que combate o olhar masculino patriarcal ao partir da decomposição do binário de género, para procurar um olhar matricial no cinema que abra caminhos para novas reconfigurações do dispositivo cinematográfico.
Este trabalho é vinculado à pesquisa interinstitucional Arte, psicanálise e educação: procedimentos estéticos no cinema e as vicissitudes da infância CEPAE/ UFG/PUCGO/ UEG/UAB-UNB/UEMS, a qual busca evidenciar a potencialidade das relações entre cinema e educação. O objetivo deste trabalho é realizar a análise fílmica do curta de animação gráfica, de 2020, Canvas, roteirizado e dirigido por Frank E. Abney III. A obra suscita o poder de sublimação da Arte, na relação terna entre avô e neta, que compartilham de uma mesma perda em família, mas também o contato com a pintura e o desenho. Traz à tona uma relação dialética envolvendo aspectos como a morte, o vazio, a tristeza, a revolta, como também as possibilidades de superação, o espaço para a sensibilidade, os caminhos de libertação, entremeados pela delicadeza do gesto infantil. Com Tarkovski (1998) podemos dizer que essa obra fílmica é imbuída pela lógica poética e nela vemos claramente como o cinema maneja o tempo e, nesse caso, para apresentar as lembranças do protagonista, o diretor recorre à mudança estética de uma animação em 3D para o 2D nessa transição temporal. O uso desse dispositivo estético, a luz, a ausência de palavras, o desenho de som, a analogia da paisagem com movimentos artísticos gráficos, dentre outros impactam e convidam o espectador à elaboração. O aporte teórico para essa discussão encontra-se em autores como Freud (1996), Gagnebin (2009), Bosi (2000), Elsaesser and Hagener (1994), Ostrower (2014), Tarkovski (1998).
ver artigo em pdfThis work is linked to the interinstitutional research Art, Psychoanalysis and Education: Aesthetic Procedures in Cinema and the Vicissitudes of Childhood CEPAE/UFG/PUCGO/UEG/UAB-UNB/UEMS, which seeks to highlight the potential of the relationship between cinema and education. The objective of this work is to perform a film analysis of the graphic short animation Canvas (2020), scripted and directed by Frank E. Abney III. The work evokes the power of Art’s sublimation, in the tender relationship between grandfather and granddaughter, who share the same loss in the family, but also the contact with painting and drawing. It brings to light a dialectical relationship involving aspects such as death, emptiness, sadness, revolt, as well as the possibilities of overcoming difficulties, the space for sensitivity, the paths of liberation, interspersed with the delicacy of the childish gesture. With Tarkovski (1998) we can say that this filmic work is imbued with poetic logic and in it we clearly see how cinema handles time and, in this case, to present the protagonist’s memories, the director resorts to the aesthetic change from a 3D animation to the 2D in this temporal transition. The use of this aesthetic device, light, the absence of words, sound design, the analogy of the landscape with graphic artistic movements, among others, impact and invite the viewer to elaborate. The theoretical support for this discussion is found in authors such as Freud (1996), Gagnebin (2009), Bosi (2000), Elsaesser and Hagener (1994), Ostrower (2014), Tarkovski (1998).
Este artigo objetiva analisar o filme Prova escrita, de Luiz Gustavo Ferraz. O documentário tem como abordagem o trabalho de uma coordenadora pedagógica de uma escola no sertão nordestino brasileiro. A análise do filme tomará como foco tanto os aspectos estéticos quanto os sentidos dos valores sociais inscritos no filme. Para dar conta disso buscamos o suporte das teorias da educação, assim como de teorias sociológicas. Nosso propósito será relacionar a construção do filme com as abordagens teóricas, relacionando-as aos problemas sociais brasileiros.
ver artigo em pdfThis article aims to analyze the film Prova escrita, by Luiz Gustavo Ferraz. The documentary addresses the work of a pedagogical coordinator of a school in the interior of the northeast of Brazil. The analysis of the film will focus on both the aesthetic aspects and the meanings of the social values inscribed in the film. To address this, we seek the support of educational theories as well as sociological theories. Our purpose will be to relate cinema to theoretical approaches and to relate them to Brazilian social problems.
Using Freudian psychoanalysis, Laura Mulvey (1975) carefully explores the male gaze in her article Visual Pleasure and Narrative Cinema, criticizing its implications and linking the representation of women on-screen as an object-of-desire to the male gaze, largely criticised by bell hooks in the 90s. Considering Bracha L. Ettinger’s theory of the Matrix, which translates to frame, grid and womb and encompasses psychoanalytic concepts beyond Freudian perspective on femininity, is it possible to investigate another type of gaze in Laura Mulvey’s article? In times such as our own, can Bracha L. Ettinger’s definition of the matrixial gaze provide an alternative foundation to the cinematic apparatus itself?