Motivado pela compreensão de fenómenos que ultrapassam os limites da perceção, o autor desafia o mito da centralidade humana. Poderíamos relacionar-nos com o mundo, de forma significativa, sem recorrer a narrativas pessoais? Munido de instrumentos de registo e deteção a progressão no território inicia-se em busca de frequências subliminares. Na escuridão, a visão esmorece, a audição aguça-se e o que julgamos conhecer escapa-se-nos do entendimento. Confrontado com o desconhecido, a singularidade do que somos é posta em causa. Fauna e flora apresentam-se como próteses percetivas que transcendem a experiência do real propondo novas estruturas do conhecimento.
Inês D’Orey apresenta o seu percurso e prática artística através de projectos que exploram a arquitectura, o património e a memória colectiva, revelando a sua visão particular de cidades como Tóquio, Buenos Aires e Bucareste.
Embora partindo de locais autênticos e de geografias predominantemente pessoais, o seu trabalho situa-se entre o teatro e o documentário, questionando tanto a veracidade da fotografia quanto a própria substância da imagem. Considerando que a fotografia oferece múltiplas interpretações, ela explora os limites entre a documentação imparcial, as expectativas e as emoções. Trata-se de um olhar inquieto, que desafia a noção tradicional de uma linguagem única e definitiva.
GALERIA ADORN
Rua Mauel Espergueira 93
Química combina a atração por elementos diarísticos e a experimentação de diferentes processos fotográficos. Desenvolvido ao longo de três anos, este trabalho explora os desdobramentos da imagem e as possibilidades da representação e da percepção. A partir de uma abordagem manual e do uso de processos alternativos, investiga a natureza das coisas e a capacidade alquímica de mutação, criando imagens que se movem entre o estranhamento e a familiaridade, documentando aquilo que nos cerca e se transforma, ao longo do tempo.
Após uma primeira apresentação no The Cave Photography, no Porto, em 2023, este trabalho regressa ao seu contexto de criação, revelando objetos recolhidos em Viana do Castelo, entre o rio e o mar. Nesta exposição, fotogramas e quimigramas vão dialogar com a pintura, na mesma procura de metamorfose.
Embora partindo de locais autênticos e de geografias predominantemente pessoais, o seu trabalho situa-se entre o teatro e o documentário, questionando tanto a veracidade da fotografia quanto a própria substância da imagem. Considerando que a fotografia oferece múltiplas interpretações, ela explora os limites entre a documentação imparcial, as expectativas e as emoções. Trata-se de um olhar inquieto, que desafia a noção tradicional de uma linguagem única e definitiva.
Todo o mundo é composto de mudança - Na vertigem da mudança acelerada, a fotografia fixa apenas um momento. No trabalho de geógrafo esse breve instante é tudo quanto basta para ensaiar a escuta do mundo. A paisagem é um desses episódios fugazes, uma brecha para acompanhar aquilo que o poeta Camões dizia acerca dos acontecimentos: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / muda-se o ser, muda-se a confiança.
Fotografar negativos fotográficos dos anos 50 e 60, retocados a lápis, nos quais exploro o sagrado e o social para criar um novo lugar do corpo.
A fotografia transcende o mero registo do real — ela suspende a realidade no tempo e confere-lhe uma nova dimensão, extraordinária, onde o corpo deixa de estar preso ao instante e passa a existir num espaço simbólico e intemporal.
A representação do corpo humano — e o uso dos lugares do corpo como metáforas — está profundamente enraizada na cultura, na arte e na linguagem. Desde as pinturas rupestres até às selfies contemporâneas, o ser humano sente uma necessidade constante de se representar, de dar forma visível à sua identidade e à sua existência.
O corpo, tal como a fotografia, é um lugar de memória, de transformação e de continuidade. Mesmo quando o corpo físico desaparece, ele persiste através da imagem, do arquivo e da imaginação. A fotografia torna-se o espaço onde o corpo sobrevive — onde se reconfigura e renasce em novos contextos e gerações.
Cada nova imagem, cada novo “lugar”, representa uma renovação do corpo no território do conhecimento e da memória.
Fotografar estes negativos foi, assim, um gesto de reencontro com o passado — uma forma de reinscrever o corpo e a sua simbologia num novo tempo e num novo olhar.
A apresentação do meu trabalho mais recente servirá como ponto de partida para pensar o retrato — enquadrando-o na minha prática artística, mas também no seu papel no contexto da fotografia documental e pós-documental — enquanto matéria sensível no processo de construção da Imagem do Mundo, no sentido proposto por Martin Heidegger.